Há muitas dúvidas entre os professores sobre a melhor forma de lidar com as novas tecnologias dentro da sala de aula.
Alguns adotam como método a proibição pura e simples dos celulares em sala de aula, por exemplo. E outros argumentam que é melhor aproveitar essas tecnologias para estimular o aprendizado dos alunos.
Eu já conheci casos estranhos, em que os diretores conseguem um laboratório de informática novinho, mas que acaba não sendo usado, porque eles têm medo de os alunos estragerem os equipamentos. Isso é um problema. E o pior é que não deixa de ser compreensível, na perspectiva de um gestor que sabe a dificuldade de conseguir e de consertar esses equipamentos. Mas é complicado quando a escola tem os equipamentos, mas os alunos não podem usar, ou usam de forma muito restrita, muito pouco produtiva.
Mas há muitos equívocos em relação ao uso das tecnologias na escola. Há muitos discursos que celebram a compra de equipamentos por si só, mas a gente tem que fazer uma crítica a isso.
Proibir ou estimular?
Há momentos em que disciplinar o foco e fortalecer a concentração é a coisa mais importante a se fazer. Então, nesse sentido, às vezes vale sim, a pena desconectar desse excesso de distrações da Internet para se concentrar. Internet é genial, mas a gente não pode desconsiderar que o que a maioria das crianças e jovens andam fazendo não é um uso criativo da Internet, mas é pura procrastinação. E já tem muita gente sofrendo por isso.
Por outro lado, a Internet tem que estar presente na escola, mas de forma crítica. A escola não pode simplesmente repetir o que os alunos já sabem ou entregar algo pronto para eles. Colocar alunos para jogar joguinhos educativos ou fazer pesquisa no Google. A escola tem que superar os alunos. Ou fazer com que eles se superem no que diz respeito ao uso da Internet.
Os alunos têm que aprender a discernir uma fonte confiável de informação no meio de tanta informação falsa que circula na Internet, tem que aprender a interpretar as mensagens nas redes sociais de acordo com a fonte, tem que saber que tudo que ele faz na Internet é registrado, que ele está sendo seguido a cada clique, que as empresas guardam essas informações e acaba nos conhecendo melhor do que os nossos melhores amigos.
Que o nosso histórico de navegação condiciona o que aparece para gente nas buscas e nas redes sociais. Eles têm que aprender a se resguardar para não ser alvo de bullynig, de assédio. Então, vai de interpretação de texto a uma discussão ética, política e mesmo filosófica do Internet.
Um dos grande desafios que as escolas têm em relação às novas tecnologias é fazer com que alunos sejam não apenas usuários, mas produtores de tecnologia.
Eles têm que aprender a transformar o que tem em mãos e não a se contentar com o papel de consumidores passivo de aplicativos feitos por outras pessoas, e em geral feitos para estimular o consumo. A tecnologia é uma linguagem e os alunos precisam aprender os códigos dessa linguagem. Os jovens não podem ser reféns de uma linguagem que não dominam.
Há um grande movimento internacional na educação entendendo que, já hoje, mais de forma mais intensa no futuro próximo, aqueles que não souberem princípios de programação serão considerados analfabetos. Tem até um termo para isso: “analfabite”.
Há sessenta anos, os computadores ocupavam um andar inteiro de um edifício. Hoje cabem no nosso bolso. O nosso smartphone é mais poderoso do que o computador que gerenciou a viagem do homem à lua em 1969.
A tendência é que no futuro próximo computadores sejam menores do que uma célula. E eles estarão em todos os lugares. Já tem um termo para isso: Internet de todas as coisas, que já está em pleno desenvolvimento, e o princípio da singularidade, elaborado por Ray Kurzweil, que se fundamenta nesse nessa lógica exponencial do avanço tecnológico.
Então se os jovens de hoje não conhecerem os princípios básicos dessa linguagem ou desses códigos que vão programar os computadores já gerenciam toda a nossa vida e estarão literalmente incorporados em nós, isso mostra que a sua educação fracassou completamente. .
Não é que alunos tem que fazer um reforço em aulas de informática. Mas as tecnologias têm que estar presentes no próprio cotidiano das disciplinas.
Se a gente aprende o alfabeto para aprender a escrever e criar a partir da linguagem, a mesma coisa deve acontecer com a tecnologia. O sentido de aprender a linguagem tecnológica é utilizar essa linguagem para cria.
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